terça-feira, abril 07, 2009

Entre duas enormes pedras o escorpião reluz na claridade, negro e místico como a sombra da Lua…

As horas passam e ele não se move, aguarda o melhor momento para actuar. Como um bom caçador, sabe esperar, um dom que germinou com ele, em eras remotas, e que sempre lhe trouxe bons desfechos…

Paira no avançar do tempo, incólume a tudo e todos. Expectante e diabolicamente sereno, observa os circundantes com uma visão milimétrica e vai construindo o seu puzzle, sem que se note o mínimo de movimento…

O calor abranda e o crepúsculo espreita…o seu ferrão venenoso começa a erguer-se de forma magistral. À sua frente, um condenado ser, vagueia alegremente sem notar a sua presença…

O escorpião principia movimentos e a auto-confiança varre-lhe as veias…num ápice ferra as suas pinças no inocente ser que por ali deambulava…sem máculas e sem querer saber porque o fez…

O veneno entranha-se e em poucos segundos o ser entra em colapso…o escorpião na sua frieza ignora-o e abandona o local, serenamente…

O escorpião não mente mas omite…
Não ameaça mas realiza…
Não confia mas quer confiança…

Move-se apenas na certeza, para nos inundar, em poucos segundos, de um doce veneno que nos pode ceifar ou apenas adormecer…

No lento veneno do esquecimento, a glória toma-se em pequenas doses, sem antídotos que consigam travar a mordida do Escorpião…

A esperança é um alimento da nossa alma, ao qual se mistura sempre o veneno do medo
– Voltaire