segunda-feira, março 14, 2005

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Pegaste suavemente num dos meus pés, com ar de adoração. Gostas deles mesmo assim, pequenos, com um dedo ligeiramente encavalitado, sempre macios e sedosos. Beijaste-mo, apesar de saberes que isso é uma tortura para mim, que sofro profundamente com as cócegas. Acariciaste, percorreste os seus contornos com a ponta do dedo, e com a mão toda agarraste o meu tornozelo. Pegaste na corda de algodão que tinhas a teu lado, enrolaste-a no metal da cama, e prendeste suave mas firmemente o meu pé.
Repetiste religiosamente o mesmo processo com o outro pé, sempre intervalado com beijos e carícias, que me faziam arquear as costas de excitação e sofrimento. Abriste as palmas das mãos, grandes e profundas, e percorreste com elas o mapa do meu corpo, desenhando cada contorno, como se quisesses impregnar em mim a tua essência e o teu cheiro.
Esticaste cada músculo dos meus braços, até à cabeceira da cama, onde os deixaste parados, sem saber o que esperar. A ponta dos teus dedos fez o percurso inverso, procurando o tesouro que deixara escondido. Com um último beijo suave, puseste aquela suave tira de veludo nos meus olhos atentos, privando-me de mais esse sentido, mas despertando ainda mais todos os outros.
Ouvi-te pegar no copo de whisky que sabia que tinhas deixado ao pé da cama, e rodar as pedras de gelo pelo liquido que eu conhecia de cor. Senti uma gota fria escorrer na barriga, seguida do toque cortante duma pedra de gelo a percorrer uma estrada só dele, emendada pelos teus lábios.
Perdi a capacidade de pensar nesse momento. Todas as células do meu corpo se concentraram no sentir.

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